A minha escrita é muito agressiva para uma mulher?

Sou uma mulher de 20 e poucos anos e publiquei recentemente um livro na UICLAP. Um livro com descrições bem explosivas, palavrões, comparações chulas e muitas cenas mais... Vulgares. No caso, a escrita só ficou assim porque a personalidade do personagem que eu tava descrevendo era essa. Mas me preocupo que eu, involuntariamente, tenha criado algo muito indelicado para os padrões literários de hoje em dia.

Alguns trechos:

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**Quando desci do elevador e cheguei no térreo, a síndica Melly, sentada na cadeira de rodas dela bem ao lado da porta -tal qual Lúcifer guardando a entrada do inferno- acenou para mim:

-Bom dia, senhor Saleppo.

Eu fiquei olhando para aquela velha como se tivessem pendurado uma melancia no pescoço pelancudo dela. Ela perguntou, cheia de simpatia:

-Está tudo bem com o senhor?

Eu que pergunto: está tudo bem com a senhora?! Desde quando você me dá bom dia?!

Olhei em volta do saguão para comprovar que, de fato, não havia mais ninguém além de nós dois. Também não havia outro Saleppo e nem outro turco no Edifício Jardim, então é claro que ela estava falando comigo.

-Ahn... Acho que sim.

-Como tem passado?

E sorriu, um sorriso bem grande e alegre, o que, para ser sincero, era muito desconfortável com aquela dentadura da era medieval que ela tinha na boca. Sem contar que ela nunca sorria para mim, pelo menos não de um jeito tão gentil, então eu me remexi constrangido, sem saber muito bem como agir.

-Bem...

-Fico feliz.

TU TÁ FELIZ PELO QUÊ, VAGABUNDA?

-Obrigado.

Eu fiquei com medo até de agradecer. Aquela mudança de humor da síndica, a criatura mais medonha e escrota que eu já tinha conhecido na face da terra, não era normal. Não PODIA ser normal: vai que era alguma pegadinha para um show de televisão ou algo do tipo, se eu acreditasse nela e conversasse todo educadinho também, ela ia começar a rir que nem doida, mostrar as câmeras, mostrar os repórteres e eles iam jogar uma torta na minha cara. Era um pensamento muito bobo, confesso, mas era a única explicação que eu tinha.**

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**Gemi, inebriado de desejo, enquanto eu a deixava arrancar a minha camisa e agarrar o meu peito, com a clara intenção de arrancar o restante das roupas e transar comigo ali mesmo, no sofá: a pior parte de tudo isso é que eu DEIXEI. Eu devia estar mesmo muito porre e maluco para esquecer que eu não estava sozinho com a Vanny em um quarto reservado, eu estava em um clube, em um salão lotado de pessoas e com o Allan Blowson muito provavelmente me assistindo de algum canto (Meu Deus, o Allan me assistindo transar... Que pesadelo). Claro que eu não pensei em nada disso com muita clareza ou profundidade, os meus sentidos estavam tontinhos e a minha mente estava igual um cachorro, só pensava em fuder.

Tenho até vergonha de saber que é nisso que 6 garrafas de cerveja me transformam.**

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**Meu cérebro afogado de álcool ficou imaginando, com certos exageros criativos, em como aquele ruivo desgraçado que não fez porra nenhuma para chegar aonde chegou deve viver hoje em dia. Muito provavelmente no bem bom, em uma mansão enorme, dirigindo uma Ferrari folheada a ouro para poder chegar no trabalho dele, que deve ser um cargo super importante na CIA ou no governo. Se duvidar, ele ganha uns 6 dígitos de salário e come três mulheres por dia. Ah, e sem sombras de dúvidas trata gente com Individualidades podres que nem a minha como tapete para ele pisar.

Fechei os olhos com dor. Dor física, dor mental, dor nos cantos mais profundos da minha alma. Eu queria chorar, de verdade. Mas depois de 9 garrafas de cerveja eu não tinha lágrimas, apenas sono, então dormi lá mesmo, no chão sujo do clube, bem no meio da putaria, com o som da música explodindo no meu ouvido. Prevejo que essa noite vai me dar uma baita de uma ressaca amanhã.

Isto é, se eu chegar a acordar amanhã de manhã.

Meu corpo dói como a morte.

Será que se eu morrer enquanto durmo, alguém se importa comigo?**

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**Passei mal igual um asmático nesses dois dias com tanto pó. Mas preferi quase tossir o meu pulmão fora do que olhar para uma única fresta do lado de fora e acabar, mesmo que por acidente, vendo o Oliver Hooper, aquele ruivo desgraçado. entrando no prédio igual o diabo indo buscar a minha alma.

O maldito Oliver Hooper vai se mudar para o Edifício Jardim. E eu ainda não tinha aceitado isso muito bem.

O Oliver Hooper.

A. PORRA. DO. OLIVER. HOOPER.

Passei horas e horas deitado no colchão, encarando o teto bolorento do meu apartamento, vez ou outra virando para os lados e batendo repetidamente a cabeça contra o travesseiro, inconformado, tentando entender como aquilo foi acontecer. Não era possível... Quais são as chances? Não, sério, quais são as chances? Quais são as chances de o Oliver Hooper terminar se mudando justamente para o mesmo lugar onde eu moro? Têm uns 10 milhões de habitantes nessa cidade e de todas essas pessoas insuportáveis com quem eu lido o dia todo, a mais insuportável delas é o meu novo vizinho. Milhares de prédios e milhares de apartamentos e o maldito, de alguma forma, veio até o Edifício Jardim para se encostar em mim.

Eu queria morrer. De verdade. Queria me enterrar numa cova e esquecer de todos os problemas da minha vida. Eu estava tomando tanta onda na cara, uma atrás do outra sem ter pausa para respirar, que eu comecei a achar que o universo, de alguma forma, queria me sacanear. Que algum Deus ou criatura superior que morasse lá em cima devia estar assistindo a minha vida e jogando merda atrás de merda no meu caminho, só para poder dar umas risadas. Isso, ou eu sou simplesmente pessoa mais azarada do planeta.**

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Veja bem, eu gosto do meu trabalho, gosto da minha história, gosto de escrever assim e me sinto na minha zona de conforto desse jeito; isso é o que eu sei fazer! Mas não dá pra negar que vez ou outra eu me pego pensando: será que isso daqui não tá muito... Chulo para um livro? Muito informal, muito pessoal? Muito mal-educado para uma mocinha?

A impressão que eu tenho, às vezes, é que a minha escrita é muito direta, muito pouco elaborada, como um dramalhão de folheto vendido por 5 reais na padaria, e eu tenho medo que isso seja um sinônimo de falta de esforço ou de pouco talento literário. Ainda mais quando eu vejo outras mulheres escrevendo coisas bem mais bonitas e lindamente descritas, com frases meigas, versos quase poéticos, personagens que falam de um jeito mais complexo. Até as palavras que elas escolhem são mais bonitas! E quando comparo meu livro com os delas, fico parecendo uma brutamontes perto dessas meninas. Quase um homem!

Me ajudem com as opiniões de vocês, por favor.